O Discurso do Método
Manifesto para a Anarquia na Ordem
“A arte é emoção tudo é emoção!”
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O Discurso do Método
Na génese do meu método está a emoção. Este estado emocional, cuja origem tem um fundamento filosófico na relação com o mundo e com os objectos constitui a pulsão que, transcendendo-me, me impele para a obra. Este é um estado intelectual provocatório, que materializa o confronto. Bebe do modernismo o conceito de que a obra de arte não está nos materiais mas na ideia.
Nos painéis as linhas entrecruzam-se parecendo obedecer a fundamentos originados na matemática. Esta mondrianização, constitui um dos princípios do método. Mas não são princípios de carácter científico que o condicionam. É o instinto, o aleatório, a emoção. O método implica a assunção da imponderabilidade como elemento integrante e fundamental do processo criativo.
A imponderabilidade usa como motor o acaso e combustível o aleatório. O imponderável, o aleatório, o acaso, manifestam-se em encontros fortuitos, no meu quotidiano com os materiais ou nas contingências impostas pelo tempo. O tempo que, não só agiu sobre o material, alterando-o cromática e texturalmente, erodindo-o, mas que também condiciona o acto criativo em si.
Nos painéis os planos multiplicam-se, recusam a singularidade. Projectam-se em direcção ao observador, contradizem-se, manipulam e confundem. A diagonal impõe-se como trave mestra. A espinha dorsal. O ponto de partida na luta contra a simetria na busca do aparente desequilíbrio.
Quando decido terminar a minha intervenção sobre o painel não se encontra este acabado. Evolui continuamente, na relação com o tempo, na relação com o espectador.
O painel cria um universo a quatro dimensões: o espaço, a diagonal, o acaso, o tempo.
O objecto que integra o painel é descontextualizado, preservando no entanto os sinais que, para o observador, constituem referências da sua (objecto) existência anterior. Na cor, na textura na forma. Estes sinais criam uma emoção relacionada com a ambiguidade gerada. Surge no espectador a angústia da interpretação. Interiormente, confronta-se com a banalidade que se refere ao estatuto anterior do objecto saído do quotidiano do, com o estatuto adquirido, pela recontextualização duchampiana, em ambiente expositivo. Instala-se assim, um processo dialéctico gerador de emoções contraditórias. Repulsa/atracção, indiferença/excitação, vazio/reflexão.
A obra, painel, caixa, auto-retrato, recebe um título que se materializa sob a forma de um número que a ordena dentro da sua categoria.
Este processo, transcende o da mera catalogação. Na relação com o observador, pretendo condicioná-lo ou influenciá-lo, o mínimo possível. Como título, o gelado vazio da numeração alfanumérica, intensifica a relação do espectador com a obra. Sem grandes pistas, este interroga-se e deixa-se envolver. Desta fusão nasce uma história que é pessoal e por isso única.
(1) Rui Chafes rib 2005