Materiais
retirados do lixo, materiais que comigo chocam quando no quotidiano,
deambulo pelos mais diversos locais, texturas esculpidas pelo imponderável
que de súbito se me revelam como se sempre tivessem sido destinadas para
integrar aquele quadro, objectos inúteis que readquirem vida aos meus olhos
e se impõem naquela tela, peças do
acaso que é afinal o
motor desta arte que é a minha. Uma filosofia Dadaista, aparentemente
anacrónica, mas que se colou a mim como se de uma segunda pele se tratasse.
O imponderável,
o aleatório, o acaso, manifestam-se quotidianamente, em encontros
fortuitos com os materiais, ou nas contingências impostas pelo tempo. Nos
painéis os planos multiplicam-se, recusam a singularidade.
Projectam-se em direcção ao observador, contradizem-se, manipulam e
confundem.
Não tenho que vos dizer que para o público em geral e
para vós, o público refinado, um dadaísta é o equivalente a um leproso. Todos sabem que dada é nada. Fugi de Dada e de mim mesmo
assim que entendi a implicações de nada. Se se é pobre de espírito, é-se possuidor de uma
inteligência segura e indominável, uma lógica selvagem, uma perspectiva
inabalável.
TristanTzara,1918
Não
sou um revolucionário, não sou um reformador, não sou neutro. Abraço
a causa mas livre de "voar", nos meus termos.A minha paleta é o espaço da urbe por onde se
disseminam os objectos perdidos e rejeitados que se encontram, se
confrontam e se harmonizam nos meus painéis.
As cores mistura-as o tempo, o imponderável, o
acaso, essa lei
que rege os destinos do Universo.
Sou
o resultado das batalhas que quotidianamente ocorrem no meu
interior. Neste mundo que é o meu, não existe lugar para Deus (não
fosse esta figura mitológica servir de bode expiatório para o meu
fracasso), não há espaço para a paz. As peças que vão
aparecendo são lágrimas ou sorrisos, gritos ou silêncios, dor, amor,
sofrimento, vida morte ou eternidade. São ciência ou poesia são
viagens infinitas pelo cosmos.
O "ready made" é talvez o objecto artístico mais controverso da história
da arte. O seu aparecimento acarreta a dessacralização desta, com
consequências incontornáveis para a arte e para os artistas que estão
para chegar.
Há uma coisa que pretendo deixar bem
claro, é que a escolha destes "ready-made" não foi nunca ditada
por qualquer razão de carácter estético. Esta escolha assentava numa
reacção de indiferença visual e, simultaneamente, uma ausência total
de bom ou mau gosto...na realidade, uma completa anestesia. Marcel Duchamp
Nos
painéis
as linhas
entrecruzam-se parecendo obedecer a fundamentos originados na
matemática. Esta mondrianização, constitui um dos princípios do método.
Mas não são princípios de carácter científico que o condicionam. É o
instinto, o aleatório, a emoção. O método implica a assunção da
imponderabilidade como elemento integrante e fundamental no processo
criativo.